Frutifique e alimente

No dia seguin­te, quan­do saí­ram de Betâ­nia, Jesus teve fome. E, ven­do de lon­ge uma figuei­ra com folhas, foi ver se nela acha­ria algu­ma coi­sa. Apro­xi­man­do-se dela, nada achou, a não ser folhas; por­que não era tem­po de figos. Então Jesus dis­se à figuei­ra: ‘Nun­ca mais alguém coma dos seus fru­tos!’” (Mar­cos 11:12–14).

Jesus amal­di­çoa a figuei­ra sem fru­tos (íco­ne da Igre­ja Ortodoxa)

Este tex­to, nar­ra­do no Evan­ge­lho de Mar­cos, tam­bém é des­cri­to por Mateus, no capí­tu­lo 21, ver­sí­cu­los 18 e 19. Mas gos­to par­ti­cu­lar­men­te da nar­ra­ti­va de Mar­cos, que apre­sen­ta a pas­sa­gem da figuei­ra sem fru­to em dois momen­tos. O pri­mei­ro, nos ver­sí­cu­los 12 a 14 e, o encer­ra­men­to, nos ver­sí­cu­los 20 a 26. Entre as duas nar­ra­ti­vas, está a pas­sa­gem da puri­fi­ca­ção do tem­plo, que, de for­ma inten­ci­o­nal, mos­tra aos lei­to­res uma liga­ção entre a figuei­ra infru­tí­fe­ra, que sim­bo­li­za Isra­el, e o tem­plo infru­tí­fe­ro e pro­fa­na­do pelos mer­ca­do­res da fé, bem como a mal­di­ção da figuei­ra, comparando‑a com o juí­zo de Deus sobre Jeru­sa­lém e sobre o templo.

Além des­sa pro­po­si­ção, o livro de Mar­cos traz aspec­tos impor­tan­tes sobre Jesus, três dos quais vamos des­ta­car para refle­tir­mos sobre eles nes­ta opor­tu­ni­da­de. O pri­mei­ro pon­to que pode­mos sali­en­tar é que Jesus teve fome. No livro de Mar­cos, esse des­ta­que tem uma inten­ção: res­ga­tar memó­ri­as coti­di­a­nas de Jesus no Seu con­ví­vio com os dis­cí­pu­los. O Jesus huma­no, ter­re­no, que nos ins­pi­ra a con­ti­nu­ar, ape­sar das difi­cul­da­des; ins­pi­ra­ção dos pri­mei­ros cris­tãos para o anún­cio da fé em meio às per­se­gui­ções, num ver­da­dei­ro exer­cí­cio de esperança.

O segun­do pon­to é que Jesus, dian­te da neces­si­da­de, obser­va o entor­no: “E, ven­do de lon­ge uma figuei­ra com folhas, foi ver se nela acha­ria algu­ma coi­sa”. Por mais que não fos­se épo­ca de figos, e o tex­to dei­xa evi­den­te essa infor­ma­ção, Jesus vai até a figuei­ra; ou seja, a figuei­ra apa­ren­ta­va ter fru­tos, pois, do con­trá­rio, só de olhar Jesus teria iden­ti­fi­ca­do a ausên­cia de fru­tos nela. Nes­se sen­ti­do, des­ta­ca­mos não ape­nas o olhar de Jesus para nós, mas tam­bém para a nos­sa apa­rên­cia enga­no­sa e as mui­tas más­ca­ras que usa­mos para nos ocul­tar como Igre­ja de Cristo.

Fre­quen­ta­mos assi­du­a­men­te os cul­tos, tra­ba­lha­mos em nos­sos minis­té­ri­os, can­ta­mos, lou­va­mos a Deus, evan­ge­li­za­mos e rea­li­za­mos tan­tas outras coi­sas mais em nos­sas comu­ni­da­des de fé. Mas, por den­tro, esta­mos como aque­la figuei­ra, sem nenhum fru­to que pos­sa­mos ofe­re­cer a Jesus ou que pos­sa ver­da­dei­ra­men­te ali­men­tar as pes­so­as que vêm até nós. Pode­mos apa­ren­tar vida, feli­ci­da­de e tran­qui­li­da­de a tem­po e fora de tem­po, mas, quan­do Deus Se apro­xi­ma de nós, reve­la cada uma de nos­sas más­ca­ras e nos vê sem nenhum fruto.

O ter­cei­ro pon­to de regis­tro é jus­ta­men­te a decep­ção de Jesus ao não encon­trar aqui­lo que dese­ja­va e, por isso, lan­ça uma pala­vra sobre a figuei­ra, que per­de seu vigor e seca. Nes­se pon­to, não somos dife­ren­tes daque­la figuei­ra. Bus­ca­mos entre­gar som­bra, flo­res, abri­go para a fau­na, ninho para os pás­sa­ros, ar mais puro, solo mais pro­du­ti­vo e até galhos para balan­ço e diver­são das cri­an­ças, mas esque­ce­mos – ou somos impos­si­bi­li­ta­dos pelas con­di­ções exter­nas e inter­nas – de pro­du­zir ali­men­to. O que se pode espe­rar de uma arvo­re fru­tí­fe­ra? Frutos!

Por mais bela que seja e por mais que haja tan­tas outras uti­li­da­des em uma figuei­ra, espe­ra-se que dela se pos­sa obter os seus fru­tos. Nes­se sen­ti­do, o tex­to de Mar­cos nos desa­fia a estar­mos pron­tos para ali­men­tar os famin­tos que virão até nós. Temos nos pre­o­cu­pa­do com tan­tas coi­sas, com tan­tos aspec­tos da nos­sa reli­gi­o­si­da­de que esta­mos per­den­do a habi­li­da­de de pro­du­zir em nós o ali­men­to para aque­les que neces­si­tam. Por meio das nos­sas ações e pre­ga­ções, anun­ci­a­mos um Jesus que cura, que liber­ta, que nos dá empre­go, pro­vi­são, bens mate­ri­ais, e esta­mos tão pre­o­cu­pa­dos em mos­trar todo o poder des­se Jesus que esque­ce­mos do Jesus homem, que teve fome, que cho­rou, que teve medo, que foi hos­ti­li­za­do, que sen­tiu soli­dão e que cami­nhou entre os mais sim­ples e rejei­ta­dos de Sua épo­ca, levan­do não ape­nas mila­gres e ali­men­to mate­ri­al aos neces­si­ta­dos, mas sal­va­ção e ali­men­to para a alma dos aflitos.

Hoje somos desa­fi­a­dos a dei­xar as más­ca­ras enga­no­sas, que nos fazem cor­rer atrás de uma reli­gi­o­si­da­de vazia, e per­ce­ber que pre­ci­sa­mos ser ver­da­dei­ra­men­te fru­tí­fe­ros e fru­tí­fe­ras, a tem­po e fora de tempo.

Há mui­tos que pre­ci­sam conhe­cer um Jesus que Se rela­ci­o­na e cami­nha ao nos­so lado, que enten­de nos­sas afli­ções, que com­pre­en­de nos­sos pro­ble­mas e que, ape­sar de toda a Sua gló­ria e majes­ta­de, impor­ta-Se conos­co. Por isso, nos­sa vida devo­ci­o­nal, nos­so rela­ci­o­na­men­to e nos­sa inti­mi­da­de com Deus atra­vés da ora­ção e o conhe­ci­men­to das Escri­tu­ras devem ser pri­o­ri­da­de em nos­sas vidas, pois nos for­ta­le­cem e nos sus­ten­tam para que pos­sa­mos pro­du­zir fru­tos que ali­men­tam. É pelos fru­tos pro­du­zi­dos por nós que somos conhecidos.

Deus nos aben­çoe e nos for­ta­le­ça para Sua missão!

Cui­da­do com os fal­sos pro­fe­tas, que se apre­sen­tam a vocês dis­far­ça­dos de ove­lhas, mas por den­tro são lobos vora­zes. Pelos seus fru­tos vocês os conhe­ce­rão. Por aca­so se colhem uvas de espi­nhei­ros ou figos de ervas dani­nhas? Assim, toda árvo­re boa pro­duz fru­tos bons, porém a árvo­re má pro­duz fru­tos maus. A árvo­re boa não pode pro­du­zir fru­tos maus, e a árvo­re má não pode pro­du­zir fru­tos bons. Toda árvo­re que não pro­duz bom fru­to é cor­ta­da e joga­da no fogo. Assim, pois, pelos seus fru­tos vocês os conhe­ce­rão” (Mateus 7:15–20).

Semi­na­ris­ta Pau­lo Rober­to L. Almei­da Junior

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