Confissões de lúcifer

Depois de mais de 6.000 anos vague­an­do pela Ter­ra, apren­di mui­to da natu­re­za huma­na, suas fra­que­zas, seus dese­jos mais secre­tos e sua misé­ria. Tenho cons­ci­ên­cia que minha cau­sa foi der­ro­ta­da, entre­tan­to estou tra­ba­lhan­do fre­ne­ti­ca­men­te para levar ao des­ti­no que me aguar­da o mai­or núme­ro pos­sí­vel de pes­so­as, pois sei que pou­co tem­po me resta.

Não é fácil a vida de um adver­sá­rio do Todo Pode­ro­so, prin­ci­pal­men­te por­que Ele con­ta com um exér­ci­to fiel de cren­tes espa­lha­dos pelo mun­do intei­ro que com suas ora­ções pro­du­zem uma revi­ra­vol­ta em todo mal que inten­to. Feliz­men­te são pou­cos os que oram de ver­da­de, por­que a mai­o­ria está mui­to pre­o­cu­pa­da con­si­go mes­ma, outros come­çam bem, me inco­mo­dam, mas logo desis­tem pois não têm perseverança.

Fico admi­ra­do com o fas­cí­nio que exer­ço sobre alguns cren­tes, que falam mais de mim que de Deus. Rio mui­to quan­do eles ten­tam me amar­rar, e dizem que naque­la cida­de eu não entro mais. O que esses cris­tãos não enten­dem é que não devem lutar con­tra mim, mas bus­car Aque­le que tem mais poder que eu. Quan­do eu qua­se des­truí a vida de Jó ele não me diri­giu uma pala­vra sequer, mas dizia o tem­po todo que a cau­sa dele esta­va dian­te de Deus e que o seu Reden­tor vive. Quan­do eu humi­lhei a Pau­lo colo­can­do-lhe um espi­nho na car­ne, ele não ten­tou me acor­ren­tar, mas apre­sen­tou sua fra­que­za a Deus, que lhe deu vitó­ria. Sin­ce­ra­men­te, com gen­te assim não dá pra lutar.

Mui­tos cren­tes cos­tu­mam fazer uma boa pro­pa­gan­da de mim, pois jul­gam que pos­suo mui­to mais poder do que real­men­te tenho e afir­mam que fiz coi­sas das quais nada tive a ver. Na ver­da­de, eu sou um pobre dia­bo, con­de­na­do e der­ro­ta­do, mas da for­ma que falam, é como seu fos­se onis­ci­en­te e oni­po­ten­te. Será que eles não sabem que eu não pos­so fazer abso­lu­ta­men­te nada sem a per­mis­são do Todo Pode­ro­so? Ah, se não fos­se por Ele…

Sou cons­tan­te­men­te acu­sa­do de tirar mui­ta gen­te da igre­ja. É men­ti­ra! Eles saem por que são leva­dos pelos seus pró­pri­os dese­jos. Não fui eu quem ins­ti­gou o filho pró­di­go a sair da casa do pai e Demas, ami­go de Pau­lo, aban­do­nou o após­to­lo por­que amou mais o mun­do do que a Deus (2Tm4.10). Não tenho pre­ten­são de tirar nin­guém da igre­ja, pelo con­trá­rio. Que­ro dei­xá-los lá, pois farei de tudo para que sejam fri­os, apá­ti­cos, que fiquem bri­gan­do entre si, que se divi­dam, que só con­ver­sem com o gru­pi­nho deles. No que depen­der de mim farei com que tenham uma vida tão mise­rá­vel, que quan­do eles forem evan­ge­li­zar nin­guém vai que­rer ter uma vida igual a deles.

Outra estra­té­gia que uso mui­to é a de fazer com que a igre­ja se pare­ça tan­to com o mun­do em valo­res e prá­ti­cas, pois assim quan­do as pes­so­as pas­sa­rem a freqüen­tá-la, elas não pre­ci­sa­rão mudar nada, e con­ti­nu­a­rão fazen­do as mes­mas coi­sas de antes. Não é genial?

Gos­to de soprar men­ti­ras nos ouvi­dos das pes­so­as – afi­nal que­ro fazer jus ao meu nome de “pai da men­ti­ra”. É, eu digo-lhes que são como gafa­nho­tos e eles acre­di­tam, digo-lhes que são uns der­ro­ta­dos e eles nem se levan­tam da cama, digo-lhes que Deus não os per­do­ou por tal e tal peca­do e eles ficam chei­os de culpa.

Con­fes­so tam­bém que sin­to um enor­me pra­zer em opri­mir aque­les que se recu­sam a per­do­ar ao seu irmão, pois rece­bi car­ta bran­ca do Todo Pode­ro­so para ator­men­tá-los com toda sor­te de espí­ri­tos malig­nos (Mt 18.34–35). E não ponham a cul­pa em mim pois só pos­so fazer isso se o cren­te se recu­sar a libe­rar per­dão, pois quan­do ele per­doa é hor­rí­vel a sen­sa­ção de paz daque­le cora­ção, e eu saio cor­ren­do dali.

Acho mui­to engra­ça­do quan­do usam sal gros­so e ora­ção for­te con­tra mim. Nem ligo. Ago­ra, o que eu temo mes­mo é uma vida san­ti­fi­ca­da. Con­tra um cren­te san­ti­fi­ca­do, fiel e que tem a Pala­vra guar­da­da no cora­ção, des­ses eu tam­bém fujo.

Como minha hora se apro­xi­ma eu estou tra­ba­lhan­do num pro­je­to gran­di­o­so para este sécu­lo. Hoje, todo mun­do quer Deus e eu estou dan­do “Deus” de todos os tipos e para todos os gos­tos. Eu estou enchen­do o mun­do de “Deus” para que eles fiquem tão con­fun­di­dos que não sai­bam quem é o Deus ver­da­dei­ro. Cada um pode ter o seu “Deus” do jei­to que qui­ser. Vocês não ima­gi­nam como o povo gos­ta des­sas novi­da­des. Tenho quei­ma­do as pes­ta­nas inven­tan­do sacri­fí­ci­os, novos ritu­ais, e tenho levan­ta­do líde­res que falam de Jesus, mas sem nenhum com­pro­mis­so com o Rei­no dele. Ado­ro soprar ven­tos de dou­tri­nas por­que os meni­nos na fé acre­di­tam em tudo.

O meu obje­ti­vo com isso? Con­fun­di-los e fazê-los ima­gi­nar que estão ser­vin­do a Deus. Ago­ra, eu não acei­to levar a cul­pa de tudo sozi­nho – eu só dou o que eles que­rem. Eles gos­tam de bri­lho, eles que­rem gló­ria pra si, eles admi­ram os que fazem suces­so, eles crêem em todas as for­mas de mis­ti­cis­mo… Eu nun­ca ima­gi­nei que esse povo gos­tas­se tan­to de ído­los. Tem­pos atrás lhes dei um bezer­ro de ouro, sécu­los depois ima­gens de bar­ro, mas ago­ra eles acei­tam todas as for­mas de ído­los. Ído­los que falam e cantam.

Mui­tos ima­gi­nam que eu sou feio, e até pin­tam qua­dros hor­rí­veis dizen­do que eu tenho chi­fres, pêlos e cara de bode. Des­de a minha cri­a­ção sou mui­to vai­do­so e jamais acei­ta­ria ser des­ta for­ma. Se vocês ouvis­sem aque­le tal de após­to­lo Pau­lo sabe­ri­am como eu sou de ver­da­de – sem­pre fui um anjo de luz, fala man­sa, voz agra­dá­vel, boa apa­rên­cia e mui­to con­vin­cen­te (2Co 11.14).

Para ter­mi­nar, eu que­ro dizer a todos que não sou ateu. Eu creio e tre­mo dian­te de Deus (Tg 2.19). Mas eu não con­si­go, não con­si­go me sub­me­ter. Sub­mis­são sig­ni­fi­ca obe­di­ên­cia, e eu não que­ro ser ser­vo. Aliás, tem mui­ta gen­te indo comi­go que tam­bém crê em Deus, pra­ti­ca seus atos reli­gi­o­sos, freqüen­ta igre­ja, e é des­sa mes­ma opinião.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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