Os incorrigíveis

Mas, se estais sem correção…,logo, sois bas­tar­dos e não filhos” (Hb 12.8)

É pon­to fun­da­men­tal na vida de um cris­tão a capa­ci­da­de que ele tem de admi­tir para si e para outros que é pas­sí­vel de ser cor­ri­gi­do. Quem é cor­ri­gí­vel per­ce­be a todo o momen­to suas falhas, seus ges­tos, suas pala­vras mal colo­ca­das, e se pre­o­cu­pa com a cor­re­ção de rumo, e a mudan­ça de pos­tu­ra. Não é ver­go­nha cami­nhar de um jei­to duran­te cer­to tem­po e, de repen­te, mudar. A pró­pria con­ver­são é isso: a cor­re­ção de rota que dava para a morte.

Há, entre­tan­to uma cate­go­ria de pes­so­as que não estão dis­pos­tas a mudar, rever, ou a ouvir. Resis­tem a qual­quer for­ma de cor­re­ção. São os incor­ri­gí­veis que ten­tam viver suas his­tó­ri­as ali­e­na­dos de Deus: seguem ape­nas seus impul­sos e pai­xões. Não vivem bem, mas não acei­tam uma exor­ta­ção para mudan­ça, e man­têm uma ati­tu­de de pre­sun­ção para com tudo o que se refe­re ao Eter­no. Podem até dizer que crêem em Jesus, na bíblia, mas na prá­ti­ca con­ti­nu­am viven­do como que­rem. Para estes só há uma ver­da­de: a deles próprios.

Mas, dian­te de Deus e de sua Pala­vra, quem não pre­ci­sa de cor­re­ção? De ser exor­ta­do? De rea­pren­der? Quem não neces­si­ta ouvir falar do seu orgu­lho, ou de sua dure­za de coração?

Ser cor­ri­gí­vel é per­mi­tir-se ser tra­tá­vel. Igre­ja é e sem­pre será um lugar de cor­re­ção, pois Deus está tra­tan­do ali a cada um de seus filhos, enquan­to gru­po e enquan­to indi­ví­du­os. Tal­vez essa seja uma das razões por­que tan­tas pes­so­as se sen­tem leva­das a repe­lir a idéia de fazer par­te de uma igre­ja sau­dá­vel. Per­ce­bem que se o fize­rem, pas­sa­rão a ser corrigidas.

Por outro lado, ser incor­ri­gí­vel é dar vazão a um nar­ci­sis­mo que pode até mes­mo se escon­der sob a más­ca­ra de uma apa­ren­te reti­dão. O incor­ri­gí­vel é “in-tra­tá­vel”, isto é, não acei­ta tra­ta­men­to, exor­ta­ção ou repreensão.

Iro­ni­ca­men­te, é jus­ta­men­te entre os reli­gi­o­sos con­fes­sos que às vezes nos depa­ra­mos com os cora­ções mais duros, e as pes­so­as de mais difí­cil tra­to. Jesus nun­ca teve pro­ble­mas com pros­ti­tu­tas, ladrões, e adúl­te­ros. Estes se con­ver­ti­am. Mas os reli­gi­o­sos fari­seus eram outra his­tó­ria. Escre­ven­do à igre­ja de Fili­pos, Pau­lo faz um ape­lo a duas irmãs que esta­vam cau­san­do pro­ble­mas: “Rogo a Evó­dia, e rogo a Sín­ti­que, que pen­sem con­cor­de­men­te no Senhor”
(Fp 4.2). O após­to­lo pas­sa um “pito” nelas publi­ca­men­te, pois se mos­tra­ram pas­sí­veis de correção.

Recen­te­men­te um conhe­ci­do “após­to­lo” foi lite­ral­men­te pego com a “mão na boti­ja”, mas até hoje, ele só tem acu­sa­do as for­ças do Mal pelo seu revés. Nenhu­ma pala­vra em públi­co supli­can­do a Deus: “Cor­ri­ge-me Senhor”. Bem dife­ren­te agiu Davi quan­do errou: “Pequei con­tra Ti, con­tra ti somen­te” (Sl 51.4).

Reu­niões, con­cí­li­os ou assem­bléi­as fazem par­te da vida de mui­tas igre­jas. Não pou­cas vezes são oca­siões para pala­vras duras, e às vezes ofen­sas. Ali, será mui­to impro­vá­vel ouvir de alguém a con­fis­são: “Temos peca­do con­tra o Senhor”.

Ser cris­tão e ser incor­ri­gí­vel são coi­sas total­men­te con­tra­di­tó­ri­as, pois se pres­su­põe que aque­le que segue ao Mes­tre este­ja dis­pos­to a reno­var e a ceder a cada dia.

Por que o Senhor se agra­dou tan­to de Davi, se ele foi um homem que come­teu inú­me­ros erros e peca­dos que até nos dias atu­ais pro­du­zi­ri­am escân­da­los? A minha res­pos­ta é que Davi era aci­ma de tudo um homem tra­tá­vel, cor­ri­gí­vel e manso.

Por que é tão difí­cil ser tra­tá­vel? Creio que se deve à difi­cul­da­de de aban­do­nar cer­tas pos­tu­ras já cris­ta­li­za­das. Acos­tu­ma­mos ao erro, acos­tu­ma­mos gri­tar e ofen­der toda vez que nos fazem mal, acos­tu­ma­mo-nos a vin­gar… essas coi­sas fazem par­te de nos­so reper­tó­rio, e pou­cos estão dis­pos­tos a se corrigir.

Todo incor­ri­gí­vel pre­ci­sa des­tro­nar o seu eu, des­fa­zer-se do seu ego­cen­tris­mo, e reco­nhe­cer que car­re­ga uma visão detur­pa­da de si mes­mo, ven­do-se como aci­ma do bem e do mal, e tam­bém do outro.

Nun­ca é demais lem­brar que Deus faz uma sole­ne adver­tên­cia aos que recu­sam a cor­re­ção: “O homem que mui­tas vezes repre­en­di­do, endu­re­ce a cer­viz, será que­bran­ta­do de repen­te sem que haja cura” (Pv 29.1).

E você, é corrigível?

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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