Síndrome de burnout: o esgotamento da alma

Por­que nós tam­bém somos fra­cos Nele, mas vive­re­mos com Ele, para vós outros pelo poder de Deus” (2Co 13.4b)

Tal­vez você nun­ca tenha ouvi­do falar da Sín­dro­me de Bur­nout, mas se você é um edu­ca­dor, assis­ten­te soci­al, enfer­mei­ro, líder reli­gi­o­so [pas­tor, diá­co­no, pres­bí­te­ro, pro­fes­sor] ou se sua pro­fis­são é lidar dia­ri­a­men­te com o ser huma­no, man­ten­do con­ta­to pró­xi­mo com outros indi­ví­du­os, é um poten­ci­al can­di­da­to de, mais cedo ou mais tar­de, vir a desen­vol­ver alguns sin­to­mas da síndrome.

Tudo come­çou em mea­dos da déca­da de 70 quan­do um pes­qui­sa­dor ame­ri­ca­no come­çou a obser­var o des­gas­te, a irri­ta­ção e a afe­ta­ção do humor dos pro­fis­si­o­nais da área da saú­de. O ter­mo Sín­dro­me de Bur­nout vem de burn (quei­ma) e out (exte­ri­or), como se a pes­soa entras­se em “com­bus­tão” físi­ca e emo­ci­o­nal, resul­tan­do num estres­se ocu­pa­ci­o­nal e um com­por­ta­men­to irritadiço.

Todos aque­les de quem se espe­ra dire­ci­o­na­men­to, solu­ção de pro­ble­mas, res­pos­tas e aju­da, tor­nam-se sus­ce­tí­veis a desen­vol­ver tal sín­dro­me. Às vezes pode atin­gir um grau tão devas­ta­dor de can­sa­ço físi­co e emo­ci­o­nal, que leva a uma total des­mo­ti­va­ção (“não pos­so mais”) e desin­te­res­se (“não que­ro mais”). É qua­se uma desis­tên­cia dos ide­ais que sem­pre abra­çou e defen­deu. É o esgo­ta­men­to da alma, um can­sa­ço que nenhum fim de sema­na con­se­gue resol­ver ou amenizar.

Alguns sin­to­mas psi­cos­so­má­ti­cos podem sur­gir, tais como enxa­que­cas, insô­nia, hiper­ten­são e gas­tri­te. No com­por­ta­men­to, inca­pa­ci­da­de de rela­xar e irri­ta­bi­li­da­de. Emo­ci­o­nal­men­te há um dis­tan­ci­a­men­to afe­ti­vo, difi­cul­da­de de con­cen­tra­ção, apa­tia e hos­ti­li­da­de, e por vezes mui­ta iro­nia. Pas­sa a ter uma con­du­ta nega­ti­va em rela­ção aos alu­nos, cli­en­tes, cole­gas de tra­ba­lho, e na vida igre­ja, em rela­ção aos irmãos e à pró­pria ins­ti­tui­ção religiosa.

Embo­ra não seja pro­pri­a­men­te um pro­ble­ma de ori­gem espi­ri­tu­al, é ine­gá­vel que afe­ta o espí­ri­to e o rela­ci­o­na­men­to com Deus.

É inte­res­san­te obser­var que alguns per­so­na­gens bíbli­cos desen­vol­ve­ram rea­ções nega­ti­vas jus­ta­men­te a par­tir do ado­e­ci­men­to de suas rela­ções inter­pes­so­ais. Moi­sés qua­se des­fa­le­ceu ao lidar com o povo, a pon­to de seu sogro inter­vir para sal­vá-lo daque­la situ­a­ção; Eli­as teve um esgo­ta­men­to, Jere­mi­as tor­nou-se qua­se um incon­so­lá­vel crô­ni­co, Pau­lo con­su­miu-se para aten­der os recla­mos de uma igre­ja exi­gen­te e desconfiada.

Não somos melho­res que eles, ao con­trá­rio, com­par­ti­lha­mos das mes­mas fra­que­zas (Tg 5.17). Não somos “super-cren­tes”, nem esta­mos imu­nes às doen­ças da alma. Per­ce­ber-se doen­te não é ver­go­nha ou demé­ri­to. Aliás, Pau­lo ensi­na: “se tenho de glo­ri­ar-me é somen­te no que diz res­pei­to à minha fra­que­za” (2Co 11.30).

O peri­go é não saber-se doen­te e igno­rar os sinais que vão se mani­fes­tan­do ao lon­go do tem­po. Embo­ra seja um pro­ble­ma rela­ci­o­na­do à ati­vi­da­de profissional/vocacional é ine­gá­vel que seus efei­tos des­tru­ti­vos atin­gi­rão outras áre­as da vida. Há pas­to­res não cons­ci­en­tes de suas doen­ças ocu­pan­do púl­pi­tos, pro­cu­ran­do encon­trar cul­pa­dos por sua ina­de­qua­ção pes­so­al, há líde­res pro­je­tan­do na con­gre­ga­ção seus “ver­du­gos ator­men­ta­do­res”, que na ver­da­de não estão fora, mas den­tro de si. O resul­ta­do é cinis­mo, dis­tan­ci­a­men­to afe­ti­vo, lin­gua­jar duro, des­pre­zo, e uma indis­far­çá­vel desesperança.

Duma cer­ta for­ma, as frus­tra­ções ao lon­go do cami­nho, o não-reco­nhe­ci­men­to, exces­si­va pres­são exter­na e uma exa­ge­ra­da cobran­ça inter­na – per­fec­ci­o­nis­mo – ali­a­dos à inca­pa­ci­da­de de per­ce­ber os pró­pri­os limi­tes, podem abrir as por­tas para o iní­cio de uma síndrome.

Por outro lado, a humil­da­de em reco­nhe­cer-se doen­te e um espí­ri­to fle­xí­vel capaz de per­mi­tir-se mudar as pos­tu­ras ina­de­qua­das dian­te da vida, são ingre­di­en­tes bási­cos para não se dei­xar cair e ficar pros­tra­do. E é cla­ro, man­ter uma fé ina­ba­lá­vel Naque­le que por ser Senhor de tudo, pode até mes­mo trans­for­mar estar humi­lha­ção em gló­ria. Quem sabe um dia ain­da pode­rá dizer: “Foi-me bom ter eu pas­sa­do pela afli­ção…” (Sal­mo 119.71).

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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