Vampiros da alma

A lite­ra­tu­ra e o cine­ma sem­pre exci­ta­ram no ima­gi­ná­rio popu­lar os medos mais escon­di­dos den­tro de nós. A cena de uma árvo­re balan­çan­do numa noi­te escu­ra, a visão de uma ara­nha ou de um mor­ce­go des­per­tam temo­res adormecidos.

Na ver­da­de, a razão do nos­so medo não está fora – está den­tro. Não é pro­pri­a­men­te a lagar­ti­xa que se teme – até por­que sabe­mos cons­ci­en­te­men­te que ela não nos ofe­re­ce peri­go – porém o medo inte­ri­or encon­trou na lagar­ti­xa uma for­ma de se expres­sar e de nos dizer: “olha, eu estou aqui den­tro!”. Não é a escu­ri­dão lá fora que teme­mos, mas as tene­bro­sas cri­a­tu­ras escon­di­das, que habi­tam den­tro de nós, e que a escu­ri­dão evoca.

Quem ima­gi­na que é “lá fora” que se encon­tram os nos­sos gran­des ini­mi­gos, está enga­na­do. Nós evan­gé­li­cos teme­mos tan­to olhar para den­tro de nós mes­mos, que as coi­sas menos lison­jei­ras que pos­suí­mos dize­mos que não são nos­sas – é o diabo.

Quem habi­ta caver­na é mor­ce­go. E nós tam­bém temos os nos­sos mor­ce­gos – são os vam­pi­ros da alma. Eles não nos assus­tam por­que nos acos­tu­ma­mos com sua pre­sen­ça. Eles nos são fami­li­a­res. É por isso que a alma pre­fe­re ape­gar-se à tris­te­za, ao pes­si­mis­mo, à pre­gui­ça, à pro­te­la­ção, à infan­ti­li­da­de, à depres­são, à neu­ro­se… por­que são seus velhos conhe­ci­dos. O cego fala com desen­vol­tu­ra da sua escu­ri­dão, o lepro­so lam­be suas cha­gas, o para­lí­ti­co tem suas des­cul­pas para não cami­nhar – “não tenho nin­guém que me ponha no tan­que”, o doen­te apre­sen­ta lá suas jus­ti­fi­ca­ti­vas por ser assim… São segu­ran­ças que temos, mas sugam a alma.

Esses vam­pi­ros da alma pas­sam o tem­po todo sugan­do toda ener­gia do nos­so ser. A von­ta­de se aba­te, o con­ten­ta­men­to de viver se esvai, a gra­ti­dão do dom da vida se trans­for­ma numa exis­tên­cia resig­na­da e a espe­ran­ça se des­va­ne­ce dian­te do menor obstáculo.

Quan­do o espe­leó­lo­go (explo­ra­dor de caver­nas) ilu­mi­na a escu­ri­dão com seu facho de luz, os mor­ce­gos ali exis­ten­tes ime­di­a­ta­men­te voam para sair daque­le lugar ilu­mi­na­do. Assim tam­bém os vam­pi­ros da alma batem em reti­ra­da quan­do o nos­so inte­ri­or rece­be a luz de Cristo.

Na ver­da­de, a cura divi­na da alma nada mais é que ter a cora­gem de per­mi­tir a luz de Deus ilu­mi­nan­do os recôn­di­tos mais escu­ros do nos­so ser, aque­le lugar que não que­re­mos mexer, aque­le lugar que é só nos­so, aque­la doen­ça que é só minha, e que dize­mos aos que estão pró­xi­mos: “vocês não vão tirá-la de mim”.

O que é neces­sá­rio para que esse tra­ta­men­to seja efi­caz? Cora­gem, somen­te cora­gem. Há uma hora em que Deus vai nos pro­por: “ou você fica do jei­to que está, e vai mor­rer assim, ou seja cora­jo­so para enfren­tar a vida de uma outra for­ma”. Foi o que Deus dis­se a um teme­ro­so Josué: “tão somen­te sê for­te e cora­jo­so”. É uma esco­lha entre viver na velha segu­ran­ça ou atra­ves­sar o rio para enfren­tar os ver­da­dei­ros desa­fi­os da vida.

Se Ele nos liber­tou do impé­rio das tre­vas e nos trans­por­tou para o rei­no do filho do seu amor, não há por­que temer.

E você, pre­fe­re a escu­ri­dão onde habi­tam os vam­pi­ros da alma?

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.