Relacionamentos tóxicos

Relacionamentos tóxicos

Há pou­cas sema­nas, com­ple­ta­ram-se 30 anos da ter­rí­vel tra­gé­dia com o césio 137 na cida­de de Goi­â­nia (GO). Ao ler e assis­tir algu­mas repor­ta­gens a res­pei­to do ocor­ri­do, uma das coi­sas que mais me cha­ma­ram a aten­ção foi o fato de algo capaz de gerar con­sequên­ci­as tão seve­ras, irre­ver­sí­veis e pro­lon­ga­das ter agi­do de for­ma tão silen­ci­o­sa e apa­ren­te­men­te ino­fen­si­va no pri­mei­ro con­ta­to. Fiquei pen­san­do que alguns rela­ci­o­na­men­tos que temos podem ser tão tóxi­cos quan­to o césio 137. Podem pare­cer ino­fen­si­vos no iní­cio, mas, em lon­go pra­zo, podem até matar!

Há mui­tos tipos de rela­ci­o­na­men­to que efe­ti­va­men­te são tóxi­cos. Um exem­plo é o cha­ma­do rela­ci­o­na­men­to abu­si­vo. Con­ven­ci­o­nou-se inter­pre­tar abu­so como vio­lên­cia físi­ca ou ver­bal. Con­tu­do, ele se dá de mui­tas manei­ras, tan­to no con­tex­to da rela­ção con­ju­gal quan­to em outras for­mas de rela­ci­o­na­men­to. O gran­de pro­ble­ma de uma rela­ção abu­si­va é que ambas as par­tes são agen­tes pro­mo­to­res des­se qua­dro. O abu­sa­dor pode fazer uso de agres­são físi­ca, moral ou emo­ci­o­nal e até coa­gir o outro finan­cei­ra­men­te, jus­ti­fi­can­do seu abu­so como con­sequên­cia de outras situ­a­ções, como se isso pudes­se ame­ni­zar o pro­ble­ma. Em con­tra­par­ti­da, o abu­sa­do, mui­tas vezes por défi­cit emo­ci­o­nal, per­mi­te-se viven­ci­ar essa situ­a­ção. Alguns até se sen­tem mere­ce­do­res de tal sofri­men­to, pois se con­si­de­ram “pes­so­as difí­ceis” ou acham, por exem­plo, que é “nor­mal” apa­nha­rem por terem “erra­do”. Em casos como esse, se não hou­ver uma bus­ca por tra­ta­men­to emo­ci­o­nal e espi­ri­tu­al, a úni­ca for­ma de mudan­ça será o rom­pi­men­to drás­ti­co e definitivo.

Outro mode­lo de liga­ção tóxi­ca é o rela­ci­o­na­men­to pos­ses­si­vo. Ele acon­te­ce quan­do, por exem­plo, numa rela­ção de ami­za­de, um se sen­te dono do outro. Nes­se tipo de “ami­za­de”, a exclu­si­vi­da­de na rela­ção é con­si­de­ra­da pro­va de res­pei­to, cari­nho e cum­pli­ci­da­de. O sen­ti­men­to de pos­se aflo­ra: se aque­le ami­go é minha pos­se, nin­guém mais pode usu­fruir dele. Não saber divi­dir um ami­go pode estar asso­ci­a­do a inse­gu­ran­ça ou a fal­ta de iden­ti­da­de e de per­so­na­li­da­de. Toda essa ins­ta­bi­li­da­de desem­bo­ca nega­ti­va­men­te no rela­ci­o­na­men­to: o pos­ses­si­vo tem difi­cul­da­de de reco­nhe­cer sua pos­tu­ra, enquan­to o alvo da pos­se não con­se­gue se des­ven­ci­lhar des­sa rela­ção tóxica.

Outra liga­ção não menos tóxi­ca é o rela­ci­o­na­men­to frau­du­len­to. Nes­se tipo de con­ta­to, a má inten­ção é notó­ria e cons­ci­en­te. O frau­da­dor se apro­xi­ma do outro com o intui­to de explo­rá-lo. Mais uma vez, a víti­ma é que dá as bases neces­sá­ri­as para que a rela­ção se esta­be­le­ça. Geral­men­te por bai­xa auto­es­ti­ma ou por fal­ta de per­so­na­li­da­de e de amor pró­prio, ela se per­mi­te ser explo­ra­da e frau­da­da, pois não vis­lum­bra outra for­ma de esta­be­le­cer uma rela­ção. Embo­ra todos per­ce­bam que aque­le “ami­go” é um mau cará­ter, enga­na­dor e dis­si­mu­la­do, a víti­ma o vê como um “san­to”, sua tábua de salvação.

Sejam abu­si­vos, pos­ses­si­vos ou frau­du­len­tos, rela­ci­o­na­men­tos des­se tipo são tóxi­cos, embo­ra a prin­cí­pio pare­çam ino­fen­si­vos. O mais gra­ve é que a víti­ma tem gran­de difi­cul­da­de para enxer­gar a rea­li­da­de e admi­tir que aque­le rela­ci­o­na­men­to é des­tru­ti­vo. Mes­mo depois de ser explo­ra­da e até de ter apa­nha­do, ela diz: “É nor­mal, é assim mesmo”.

O mais tris­te é que, em lon­go pra­zo, rela­ci­o­na­men­tos com essas bases aca­bam geran­do a mor­te. Agem como o césio 137, que pare­ce um pozi­nho ino­fen­si­vo, mas está des­truin­do a víti­ma por den­tro des­de o pri­mei­ro con­ta­to. Depois de anos de uma rela­ção tóxi­ca como essa, vem a mor­te da per­so­na­li­da­de, dos sonhos, das expec­ta­ti­vas e da fé.

A reco­men­da­ção bíbli­ca é taxa­ti­va: deve­mos evi­tar suma­ri­a­men­te esta­be­le­cer rela­ci­o­na­men­tos tóxi­cos. Diz o sal­mis­ta: “Bem-aven­tu­ra­do o homem que não anda segun­do o con­se­lho dos ímpi­os, nem se detém no cami­nho dos peca­do­res, nem se assen­ta na roda dos escar­ne­ce­do­res” (Sl 1:1).

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Pr. Tia­go Valentin

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