Reencarnação versus graça

Já há mui­tos anos temos vis­to auto­res de tele­no­ve­las faze­rem uso da dou­tri­na kar­de­cis­ta como linha con­du­to­ra das his­tó­ri­as envol­ven­do moci­nhos e moci­nhas, vilões e vilãs. Segun­da vida, car­ma, regres­são, reen­car­na­ção, psi­co­gra­fia, pla­no espi­ri­tu­al e con­ta­to com espí­ri­tos, entre outras coi­sas, são abor­da­dos nas nove­las. Nes­ta sema­na, uma das nove­las trans­mi­ti­das pela rede aber­ta de tele­vi­são mais uma vez ape­lou ao kar­de­cis­mo para dar con­ti­nui­da­de ao enre­do da his­tó­ria. Meta­de da nove­la pas­sou-se no fim do sécu­lo XVIII e a outra meta­de, nos dias atu­ais. A ques­tão é que, nes­sa pon­te de 150 anos, os per­so­na­gens con­ti­nu­am sen­do os mes­mos. O que foi pro­pos­to é que todos reen­car­na­ri­am em novas vidas, mas tudo o que eles fize­ram no pas­sa­do dis­tan­te teria refle­xos dire­tos na vida atual.

Ao que pare­ce, a auto­ra quer mos­trar, com base na dou­tri­na kar­de­cis­ta, que todas as nos­sas esco­lhas terão refle­xos em vidas pos­te­ri­o­res; ou seja, quem come­teu uma falha numa vida pas­sa­da terá ine­vi­ta­vel­men­te que pagar ou arcar com as con­sequên­ci­as numa pró­xi­ma vida. Essa seria a for­ma de Deus fazer jus­ti­ça. Tris­te possibilidade!

Eis o gran­de pro­ble­ma na ideia de haver reen­car­na­ção: nós só tere­mos melho­res con­di­ções numa “outra vida” se fizer­mos por mere­cer. E o con­trá­rio tam­bém é ver­da­dei­ro: o que fizer­mos de erra­do, em algum momen­to ou em algu­ma vida, tere­mos de pagar.

Se a reen­car­na­ção exis­tis­se, Jesus e Sua obra reden­to­ra seri­am anu­la­dos. Em pri­mei­ro lugar, não temos, de acor­do com a fé cris­tã, diver­sas vidas para viver. Temos, isto sim, uma úni­ca chan­ce, uma úni­ca vida. A reden­ção está em ser­mos ama­dos, res­ga­ta­dos por Deus, e em poder­mos des­fru­tar de uma nova vida em Cris­to Jesus. Deus quer que, por meio de Seu Filho, pos­sa­mos, aqui e ago­ra, viver­mos uma vida abundante.

A ques­tão é que essa vida abun­dan­te não nos é dada pelo que faze­mos; ou seja, não é por méri­to. Não há nada que pos­sa­mos fazer para Deus ou dar a Ele que nos dê o direi­to de ter uma vida ple­na. Deus nos dá da Sua gra­ça de gra­ça: “Por­que pela gra­ça sois sal­vos, medi­an­te a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que nin­guém se glo­rie” (Ef 2:8–9).

Que tris­te seri­am a rea­li­da­de e a con­di­ção huma­na se depen­dês­se­mos de nós mes­mos ou de nos­sas ati­tu­des para mere­cer­mos uma vida melhor. Se Deus tives­se que ficar nos fis­ca­li­zan­do e medin­do para saber se mere­ce­mos reen­car­nar numa con­di­ção melhor ou mais favo­rá­vel, esta­ría­mos per­di­dos, por­que “toda boa dádi­va e todo dom per­fei­to são lá do alto, des­cen­do do Pai das luzes, em quem não pode exis­tir vari­a­ção ou som­bra de mudan­ça” (Tg 1:17). Ou seja, não há nada de bom que pro­ce­da de nós, ain­da que tenha­mos a melhor das inten­sões, pois nos­sas ati­tu­des e esco­lhas sem­pre esta­rão impreg­na­das de peca­do. As míse­ras vezes em que faze­mos algu­ma coi­sa de bom é por­que Deus tem mise­ri­cór­dia de nós e, na ver­da­de, o bem que faze­mos é obra das mãos de Deus, e não das nossas.

Defi­ni­ti­va­men­te, crer em reen­car­na­ção é mui­to tris­te, escra­vi­zan­te e injus­to. Deus esco­lheu nos amar e não há nada nem nin­guém que pos­sa alte­rar isso. Ele esco­lheu sal­var-nos a todos e todas; bas­ta crer­mos no Seu amor, que se expres­sou no sacri­fí­cio de Jesus Cris­to. Somos sal­vos por Ele não para reen­car­nar­mos numa vida melhor, mas para viver­mos hoje de uma manei­ra melhor. E nis­to con­sis­te a vida eter­na: em ser­mos tira­dos hoje do infer­no e de qual­quer pos­si­bi­li­da­de de cas­ti­go para, assim, viver­mos em abundância!

Pr Tiago Valentim

Do ami­go e pastor,
Pr. Tia­go Valentin

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