Quando tudo der errado…

Você já se deu con­ta de quan­tas coi­sas dão erra­das em nos­sas vidas, quan­tos pla­nos são frus­tra­dos, quan­tas ami­za­des des­fei­tas, quan­tos obs­tá­cu­los inter­rom­pen­do o nos­so cami­nho? E quan­tos sonhos aca­len­ta­dos por uma vida ter­na e tranqüi­la e de repen­te estou­ram como uma bolha de sabão no ar.

Se até ago­ra nada dis­so lhe diz res­pei­to, pode parar de ler, pois você é alguém dife­ren­te de todos os outros cris­tãos “nor­mais”. É engra­ça­do falar essas coi­sas, mas tenho ouvi­do mui­ta gen­te dizer que o ver­da­dei­ro cris­tão não fica tris­te, nada dá erra­do em sua vida, tudo lhe é favo­rá­vel, e Deus lhe con­ce­de as coi­sas de mão beijada.

Só que este não é o padrão bíbli­co. Esta não é a for­ma de Deus demons­trar o seu amor – cri­an­do gen­te mima­da. Há um apren­di­za­do na difi­cul­da­de, há mús­cu­los a serem tra­ba­lha­dos para que não se tor­nem flá­ci­dos, há gol­pes e reve­ses que nos tor­na­rão cien­tes de nos­sa abso­lu­ta depen­dên­cia do Eter­no. Os cami­nhos de Deus são ines­cru­tá­veis e incom­pre­en­sí­veis para nós. Hoje somos inca­pa­zes de saber “o porquê” cer­tas coi­sas acon­te­cem, não temos res­pos­tas cla­ras a mui­tos acon­te­ci­men­tos, que para nós não tem sen­ti­do nem bene­fí­cio algum.

Temos mui­to a apren­der com José, filho de Jacó, e irmão de 11 jovens que eram ver­da­dei­ras pedras de tro­pe­ço. Creio que não há na bíblia per­so­na­gem que tenha sofri­do mai­o­res incom­pre­en­sões e injus­ti­ças que esse rapaz. Sua his­tó­ria come­ça no capí­tu­lo 37 de Gêne­sis e a par­tir dali não vemos mais mila­gres, nem anjos subin­do e des­cen­do, nem Deus se mani­fes­tan­do. O que há é o rela­to de um jovem sim­ples que tinha a alma pro­fun­da­men­te arrai­ga­da no Eter­no, e que pos­suía aqui­lo que fal­ta em mui­tos de nós: a cer­te­za de que, acon­te­ça o que acon­te­cer, nós somos do Senhor, que Ele está conos­co, e nada foge ao seu conhe­ci­men­to. Somen­te nes­sa cer­te­za é que pode­mos – como José pôde – supor­tar todas as adversidades.

José foi ven­di­do a mer­ca­do­res pelos pró­pri­os irmãos, que simu­la­ram sua mor­te ao pai. Viveu como escra­vo numa ter­ra estra­nha, com cos­tu­mes estra­nhos, deu­ses estra­nhos e gen­te que não era o seu povo. Como não bas­tas­se a tris­te­za do exí­lio invo­lun­tá­rio, ele foi parar na cadeia: “Mas o Senhor era com José” (Gn 39.21).

Na vida de José há uma suces­são de fatos desa­gra­dá­veis. Entre­tan­to, não o vemos lamen­tan­do, não o vemos sen­tin­do-se aban­do­na­do pelos céus, não recla­ma da sua sor­te, não há em seus lábi­os pala­vras que deno­tem qual­quer dúvi­da que a sua vida esti­ves­se sob o con­tro­le do Altís­si­mo. Isso é mui­to impor­tan­te, pois hoje fica­mos dis­cu­tin­do com Sata­nás os rumos da nos­sa vida, e pomos sobre ele a res­pon­sa­bi­li­da­de pelos nos­sos reve­ses. Não vemos isso em Jó, que mes­mo depois de o ini­mi­go ter lhe tira­do tudo excla­ma: “O Senhor deu, o Senhor tomou”. Não vemos isso em Pau­lo, que embo­ra sou­bes­se que o espi­nho na car­ne fora uma obra satâ­ni­ca, ele não se envol­veu em ques­tões com o demo. Isso hon­ra a Deus e reco­nhe­ce Sua sobe­ra­nia sobre tudo o que nos acontece.

É um ato de fé que agra­da a nos­so Pai quan­do sabe­mos que os pro­pó­si­tos divi­nos have­rão de ser alcan­ça­dos inde­pen­den­te­men­te de qual­quer ação con­trá­ria, seja ela de ori­gem huma­na ou dia­bó­li­ca. É por isso que Jó excla­ma: “Bem sei que tudo podes e nenhum dos teus pla­nos pode ser frus­tra­do!” (Jó 42.2).

Eu pen­so que a nos­sa his­tó­ria é como daque­le náu­fra­go que vai dar numa ilha e ali faz uma caba­na com os res­tos do bar­co e alguns per­ten­ces para a sua sobre­vi­vên­cia. Um dia ele sai pela ilha para bus­car ali­men­to e quan­do retor­na vê uma fuma­ça no céu. Che­ga cor­ren­do e obser­va com tris­te­za as úni­cas coi­sas que tinha na vida sen­do quei­ma­da pelo fogo. Entra em pro­fun­do deses­pe­ro, lan­ça impro­pé­ri­os aos céus e lamen­ta sua a má sor­te. Pas­sa­das algu­mas horas che­ga um bar­co para res­ga­tá-lo. Sur­pre­so, per­gun­ta: “Como me des­co­bri­ram aqui?”, e lhe res­pon­de­ram: “pela fuma­ça da fogueira”.

O nos­so Deus tra­ba­lha para nós, embo­ra não com­pre­en­da­mos a tes­si­tu­ra da nos­sa vida. Depois de tudo o que pas­sou, José foi alça­do na posi­ção de pri­mei­ro-minis­tro no Egi­to, e isso lhe per­mi­tiu sus­ten­tar os seus irmãos e toda a sua famí­lia. Ele diz:

É ver­da­de que vocês pla­ne­ja­ram aque­la mal­da­de con­tra mim, mas Deus mudou o mal em bem para fazer o que esta­mos ven­do, isto é, sal­var a vida de mui­ta gen­te” (Gn 50.20).

Quan­do tudo dá erra­do – mas o Senhor está conos­co – no final dá cer­to. Deus sabe de todas as coi­sas que nos acon­te­cem, e só Ele é capaz de trans­for­mar apa­ren­tes der­ro­tas em vitó­ri­as, a humi­lha­ção em exal­ta­ção, as lágri­mas der­ra­ma­das em riso incon­ti­do e toda e qual­quer mal­di­ção que nos lan­çam em bên­çãos incon­tá­veis. Por­tan­to, lem­bre-se: quan­do tudo esti­ver dan­do erra­do… então vai dar certo!

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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