O que realmente importa

Há mui­to pou­cas coi­sas na vida que real­men­te impor­tam e con­se­guir reco­nhe­cê-las é pro­va de sabe­do­ria. Por isso, eu creio que não seja pos­sí­vel saber o exa­to valor das coi­sas enquan­to a alma não for banha­da pela luz que vem do Alto. Ou seja, se o Eter­no não tocar pro­fun­da­men­te o nos­so cora­ção nem mudar os nos­sos olhos, tere­mos uma exis­tên­cia mar­ca­da por cons­tan­tes erros de valores.

A ausên­cia de Deus na vida do homem o impul­si­o­na a gas­tar-se por “nada”, a lutar por “coi­sa nenhu­ma” e a se enri­que­cer com “con­tas de vidro”. É famo­sa a his­tó­ria do des­bra­va­dor Fer­não Dias, que no sécu­lo 17 se embre­nhou pelo inte­ri­or do Bra­sil obce­ca­do pela bele­za das esme­ral­das e mor­reu aper­tan­do entre as mãos um punha­do de pedras ver­des que ima­gi­na­va serem aque­las, quan­do na ver­da­de eram de um mine­ral sem gran­de valor.

Há mui­ta gen­te com os olhos vidra­dos cor­ren­do atrás do ven­to, cor­ren­do atrás de pres­tí­gio, de reco­nhe­ci­men­to, agar­ra­da às coi­sas que ima­gi­na ser pre­ci­o­si­da­des e, de repen­te, os anos pas­sam, a vida é per­di­da, e o pra­zer se esvai entre os dedos.

Con­ta-se que um mili­o­ná­rio texa­no foi visi­tar a casa em que Madre Tere­sa de Cal­cu­tá cui­da­va de lepro­sos, na Índia, e lhe falou: “Irmã, eu não faria isso por dinhei­ro nenhum do mun­do”. E a frei­ra res­pon­deu: “Eu tam­bém não, meu filho, eu tam­bém não”. Ela pos­suía a paz e a sere­ni­da­de de alguém que des­co­briu o que real­men­te importava.

Não saber o que de fato impor­ta na vida é per­der-se em fri­vo­li­da­des, em sen­si­bi­li­da­des, é machu­car-se por nada. Uma jovem médi­ca infec­to­lo­gis­ta foi tra­ba­lhar com paci­en­tes ter­mi­nais con­ta­mi­na­dos com o HIV. Ques­ti­o­na­da sobre o que isso mudou em sua vida, ela dis­se: “Apren­di a me ale­grar com as peque­nas coi­sas… E per­di a paci­ên­cia de lidar com pes­so­as que recla­mam de tudo na vida”. Assim como ela, tam­bém aca­bou minha paci­ên­cia em lidar com cris­tãos mima­dos, pre­sos a futilidades.

Valo­ri­zar as peque­nas coi­sas, não foi isso jus­ta­men­te o que Jesus veio nos ensi­nar? Ao homem que que­ria cons­truir celei­ros para arma­ze­nar sua pro­du­ção e pas­sar o res­to de seus dias comen­do, beben­do e rega­lan­do-se, Ele cha­ma de “lou­co” (Lc 12:20). Tam­bém é peda­gó­gi­co o tex­to em que um jovem rico se apro­xi­ma do Mes­tre e per­gun­ta o que pre­ci­sa fazer para her­dar a vida eter­na. Jesus, olhan­do para ele, o amou e lhe propôs: “Uma coi­sa ain­da te fal­ta: vai, ven­de tudo o que tens e dá aos pobres” (Mc 10:21). O jovem, sem dizer pala­vra, reti­rou-se dali tris­te, pois pos­suía mui­tas propriedades.

Que fique cla­ro: o pro­ble­ma não está em pos­suir bens ou dinhei­ro, mas Jesus conhe­cia aque­le cora­ção e que­ria mos­trar-lhe que o seu ape­go aos bens mate­ri­ais detur­pa­va-lhe a visão cor­re­ta da vida e, por isso, pediu a ele uma renún­cia. Aque­le jovem pre­ci­sa­va resol­ver essa ques­tão exis­ten­ci­al. O mes­mo vale para nós: a que pre­ci­sa­mos renunciar?

Mar­ta, Mar­ta, andas inqui­e­ta e te pre­o­cu­pas com mui­tas coi­sas. Entre­tan­to, pou­co é neces­sá­rio, ou mes­mo uma só coi­sa” (Lc 10:42).

Somos as “Mar­tas” de hoje, que cor­rem, fati­gam-se, vivem ansi­o­sas, neces­si­tam de remé­di­os para dor­mir, pois não con­se­guem se “des­li­gar”… Somos as Mar­tas que trans­for­ma­ram a sim­pli­ci­da­de da vida numa bus­ca sôfre­ga de “mais e mais”, ali­a­da a uma pre­o­cu­pa­ção exces­si­va com tudo que se refe­re ao amanhã.

Em soci­e­da­des com­pe­ti­ti­vas, como o Japão, as cri­an­ças são incen­ti­va­das des­de cedo a se des­ta­car. E a esco­la dei­xou de ser lugar de apren­der para tor­nar-se um lugar de com­pe­tir. Tra­gi­ca­men­te, isso tem pro­vo­ca­do as mai­o­res taxas mun­di­ais de sui­cí­dio infantil.

Edwin Aldrin foi o segun­do astro­nau­ta a pisar em solo lunar, logo após Neil Armos­trong. Ao retor­nar, a per­gun­ta que ouviu de seu pai foi: “Por que você não foi o pri­mei­ro?”. Depois dis­so, sofreu de depres­são e alco­o­lis­mo por dezoi­to anos.

Creio que todos con­cor­da­mos que não há mai­or pra­zer do que “comer, beber e gozar do fru­to do tra­ba­lho”, como ensi­na Ecle­si­as­tes. Mas o homem sim­ples de fé reco­nhe­ce que tudo isso vem da mão de Deus e, sepa­ra­do d’Ele, nin­guém pode se ale­grar ver­da­dei­ra­men­te. Ou seja, sepa­ra­do de Deus, tudo per­de o seu valor.

O Evan­ge­lho nos reme­te a uma nova for­ma de viver. Lan­çar um novo olhar é fun­da­men­tal para a com­pre­en­são do exa­to valor das coi­sas. Para o Evan­ge­lho, o mais impor­tan­te não é ser o pri­mei­ro, nem ter o melhor salá­rio ou obter mai­or reconhecimento.

Peça ao Pai para lhe mos­trar o que real­men­te é fun­da­men­tal em sua vida. Você vai ficar sur­pre­so ao des­co­brir que se tra­ta de coi­sas sim­ples, com as quais, quem sabe, nun­ca se impor­tou de verdade.

Pou­cas coi­sas são neces­sá­ri­as para uma exis­tên­cia feliz. Espe­ro que você faça as melho­res escolhas.

Pr. Daniel Rocha

Por Dani­el Rocha,
pas­tor da I.M. Cen­tral em San­to André

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