O evangelho é simples… Não complique

O bei­ja-flor dis­traí­do entrou pela por­ta entre­a­ber­ta da sala. Deses­pe­ra­do, batia nos vidros bus­can­do uma saí­da. Ten­tei pega-lo, mas a cada ten­ta­ti­va ele voa­va mais alto, sem dire­ção, e temi que se machu­cas­se. Resol­vi espe­rar. Se pudes­se comu­ni­car com ele, diria: “Ei ami­go, fique qui­e­to, não lhe farei mal, só que­ro aju­dá-lo”. Final­men­te, depois de horas se deba­ten­do, e já sem for­ças, pude apa­nhá-lo sobre o pei­to­ril. Cal­ma­men­te o recon­du­zi ao jar­dim e, pron­to, esta­va livre.

Fiquei pen­san­do que mui­tas vezes agi­mos como um coli­bri assus­ta­do. Há um Deus cui­da­do­so, pre­sen­te, sen­sí­vel, que dese­ja nos recon­du­zir ao cami­nho quan­do bate­mos de fren­te nas jane­las fecha­das. Deba­te­mo-nos, aca­ba­mos com a saú­de, adre­na­li­na no cor­po, um estres­se se anun­cia… e recu­sa­mo-nos des­can­sar. Somen­te depois de tem­pos, já com as for­ças exau­ri­das, Alguém vem e nos pega, e nos leva para um lugar alto.

Por que Ele não fez isso antes? Só ago­ra? Vem, então, à minha men­te o irre­qui­e­to bei­ja-flor. Admi­ro quem cien­te do peri­go, côns­cio da situ­a­ção, apren­deu a des­can­sar, a ficar qui­e­ti­nho, con­fi­an­do na mão pro­vi­den­ci­al de Deus.

O Evan­ge­lho é sim­ples, é um aqui­e­tar-se e saber que Jesus é Deus pre­sen­te em toda e qual­quer situ­a­ção. Se sabe­mos dis­so, por que com­pli­ca­mos? Alme­jo a fé sim­ples do cen­tu­rião roma­no, que dian­te do dese­jo mani­fes­to por Jesus de ir à sua casa e curar o ser­vo enfer­mo, pron­ta­men­te rea­ge: “Não, Senhor, man­da uma pala­vra e ele será curado”.

O que faze­mos hoje? Com­pli­ca­mos. Nin­guém mais quer con­fi­ar na Pala­vra sem acres­cen­tar ritu­ais ou garan­ti­as para “dar cer­to”. Então, leva-se o nome da pes­soa, peça de ves­tuá­rio, docu­men­tos, escre­ve coi­sas em papei­zi­nhos, quei­ma na foguei­ra… Ao cen­tu­rião Jesus elo­gi­ou: “nem em Isra­el vi fé como esta”. O que Jesus diria dos com­pli­ca­do­res de hoje, inca­pa­zes de crer com sim­pli­ci­da­de na Sua Palavra?

Quer orar de for­ma sim­ples? “Entra no teu quar­to, fecha a tua por­ta e ora ao Teu Pai…”. Eis o momen­to pre­ci­o­so de comu­nhão e entre­ga que Deus espe­ra de nós. Eis o ges­to de quem reco­nhe­ce que aque­le quar­to ilu­mi­na-se cada vez que você dobra os joe­lhos na pre­sen­ça do Rei. É ali que der­ra­ma­mos dian­te de Deus nos­sas lágri­mas, e tris­te­zas, e levan­ta­mos con­so­la­dos por seu amor.

Aos olhos do cren­te moder­no, só isso não pode “fun­ci­o­nar”. É pre­ci­so gran­des cor­ren­tes que oram por nós – e a fé já não é mais depo­si­ta­da em Deus, mas no tama­nho da cor­ren­te. Outro dia ouvi alguém dizer: “Fica tranqüi­la que eu inse­ri o seu pro­ble­ma no site da Lagoi­nha, lá tem bas­tan­te gen­te”. Ou seja, seus pro­ble­mas aca­ba­ram: é a ter­cei­ri­za­ção da oração!

Não é mais fé em Jesus, é fé na mul­ti­dão. Bus­cam-se luga­res com mui­ta gen­te, pois na cren­ça popu­lar, ali está o poder. Mais uma falá­cia: na bíblia, mul­ti­dão é sem­pre sinô­ni­mo de difi­cul­da­de e impedimento.

O Evan­ge­lho é sim­ples, orar é sim­ples, con­fi­ar é sim­ples… por­tan­to, não com­pli­que. Como diz o poe­ta: “devia ter com­pli­ca­do menos… e ama­do mais”.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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