Nem tudo o que é mal é mal

Foi-me bom ter eu pas­sa­do pela afli­ção” (Sal­mo 119.71)

D avi foi o pri­mei­ro a dizer: “foi-me bom ter eu pas­sa­do pela afli­ção”. Depois Tia­go: “ten­de por moti­vo de toda ale­gria o pas­sar­des por vári­as pro­va­ções”. Só mes­mo no absur­do da fé alguém pode­ria dizer que é bem pas­sar por algo que, aos nos­sos olhos, é mal. Os valo­res do Evan­ge­lho qua­se sem­pre vão em dire­ção dia­me­tral­men­te opos­ta ao sen­so comum das pessoas.

As melho­res defi­ni­ções de rique­za, lucro, poder ou feli­ci­da­de que nos são ensi­na­das des­de cri­an­ça “não batem” com o Evan­ge­lho. Os ensi­na­men­tos do Rei­no tam­bém não se ali­nham com a visão nor­mal que temos de per­da, pre­juí­zo ou der­ro­ta, pois cons­tan­te­men­te essas coi­sas são cha­ma­das de “momen­tâ­nea tri­bu­la­ção” que nos dig­ni­fi­cam ao invés de nos destruir.

Mui­tas mara­vi­lhas e obras foram pro­du­zi­das não como resul­ta­do do que sobe­ja, mas do que fal­ta. Em Cris­to, defi­ci­ên­cia não é impe­di­men­to e limi­ta­ção não é des­cul­pa. Fanny Crosby, cega des­de a infân­cia por con­ta de um erro médi­co fale­ceu aos 94 anos como a mai­or auto­ra de hinos sacros de toda a his­tó­ria. Sua vida foi tão impres­si­o­nan­te quan­to a qua­li­da­de e quan­ti­da­de de seus qua­se nove mil hinos e poe­mas compostos.

Até a natu­re­za nos ensi­na: a mais pre­ci­o­sa péro­la só pode ser pro­du­zi­da pela ostra se hou­ver nela uma inces­san­te irri­ta­ção pro­vo­ca­da por um grão de areia. Ela se defen­de do incô­mo­do pro­du­zin­do uma secre­ção – o nácar – que reco­bre o cor­po estra­nho para anu­lar aque­le mal. Então se com­pre­en­de por­que “ostra feliz não pro­duz pérola”.

Os pro­du­to­res dos melho­res vinhos do mun­do sabem que, de um modo geral, a videi­ra não gos­ta de solo fér­til. Ela pre­ci­sa “sofrer” para pro­du­zir fru­to de qua­li­da­de. Outo­nos secos e verões quen­tes vão tam­bém con­tri­buir para a matu­ra­ção das uvas. A região de Bor­go­nha, na Fran­ça, apre­sen­ta todas as con­di­ções ide­ais para pro­du­zir os melho­res vinhos do mun­do. E o que essa região tem de espe­ci­al? Jus­ta­men­te os pre­cei­tos “nega­ti­vos” que vão esti­mu­lar o fru­to a fazer um esfor­ço extra que vai resul­tar num vinho de qualidade.

Se des­de o nos­so nas­ci­men­to não hou­ves­se um só pro­ble­ma ou con­tra­ri­e­da­de, e no decor­rer do cres­ci­men­to tudo o que se dese­jas­se fos­se alcan­ça­do, não che­ga­ría­mos jamais à matu­ri­da­de, mas sería­mos seres afe­ta­dos, pre­sun­ço­sos, ego­cên­tri­cos e per­ma­ne­ce­ría­mos num infan­ti­lis­mo crô­ni­co por toda a vida.

Nem tudo que nos acon­te­ce de mal é de fato mal. Depois de pas­sar por um lon­go perío­do de neces­si­da­des, iso­la­men­to ou incom­pre­en­são, você cer­ta­men­te eli­mi­na­rá de sua lis­ta uma série de ami­gos que lhe vira­ram as cos­tas, mas terá des­co­ber­to pes­so­as mara­vi­lho­sas pelas quais você agra­de­ce­rá a Deus por tê-las conhe­ci­do. Depois de pas­sar pelo vale da som­bra da mor­te, por uma doen­ça ou aci­den­te qua­se fatal, você nun­ca mais será o mes­mo: seus valo­res muda­rão, e não terá mais paci­ên­cia com picui­nhas ou per­de­rá tem­po com futilidades.

Antes de recla­mar com Deus por­que per­deu, por­que sofreu ou ado­e­ceu, veja o que Ele lhe pro­põe, mes­mo sem tirar o infor­tú­nio. Tal­vez nas­ça em você algo que nun­ca per­ce­be­ria se não tives­se per­di­do. Espe­re para ver, mas não cho­re além do que deve. Afi­nal, nem tudo que a prin­cí­pio pare­ce ser mal, de fato é.

Cer­ta­men­te não é moti­vo de come­mo­ra­ção a per­da de um empre­go, a des­co­ber­ta de uma doen­ça, ou um pre­juí­zo ines­pe­ra­do. Porém, é cer­to que as vicis­si­tu­des da vida virão quer gos­te­mos ou não. Mas ao viver na fé sai­ba que nada, abso­lu­ta­men­te nada, pode nos sepa­rar do amor de Cris­to – nem mes­mo as coi­sas ruins.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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