Desapega, desapega… do seu din-din!

O títu­lo des­ta refle­xão fez você se lem­brar da musi­qui­nha daque­le famo­so site de tro­ca e ven­da pela inter­net? “Desa­pe­ga! Desapega!”

Há cer­ca de um ano, nos­sa igre­ja local tem fei­to um tra­ba­lho evan­ge­lís­ti­co com pes­so­as em situ­a­ção de rua cha­ma­do Ali­men­tan­do Vidas. Den­tre os fru­tos colhi­dos nes­se perío­do, está a pre­sen­ça de vári­as des­sas pes­so­as em nos­sos cul­tos domi­ni­cais e a inte­gra­ção de mão dupla deles com nos­sa comu­ni­da­de e nós com eles. Cada sema­na é um novo apren­di­za­do para ambas as par­tes, e o que mais tenho pedi­do a Deus ulti­ma­men­te é sen­si­bi­li­da­de para enxer­gá-Lo na vida das pes­so­as, amá-las e suprir suas neces­si­da­des con­for­me o Senhor deseja.

Uma des­sas pes­so­as em situ­a­ção de rua, em espe­ci­al, é o Car­lão, um cara sin­gu­lar. Está sem­pre com um sor­ri­so no ros­to, em meio a tan­ta dor e a uma vida mar­gi­na­li­za­da, com feri­das tão car­ran­cu­das e pro­fun­das, mas que se dis­si­pam no abra­ço calo­ro­so que ele dá em cada um de nós, a quem ele cha­ma de família.

Todos os domin­gos, eu o tenho obser­va­do. Ah, como o Car­lão tem me ensi­na­do sobre sim­pli­ci­da­de e depen­dên­cia de Deus! Em todos os cul­tos, sem exce­ção, Car­lão é um dos pri­mei­ros a colo­car a mão no bol­so, na hora da ofer­ta, pegar algu­mas moe­das e colo­car na sal­va. Na pri­mei­ra vez que o vi fazen­do isso, a pas­sa­gem da viú­va e suas moe­di­nhas veio cer­tei­ra à minha men­te: “Jesus sen­tou-se em fren­te do lugar onde eram colo­ca­das as con­tri­bui­ções, e obser­va­va a mul­ti­dão colo­can­do o dinhei­ro nas cai­xas de ofer­tas. Mui­tos ricos lan­ça­vam ali gran­des quan­ti­as. Então, uma viú­va pobre che­gou-se e colo­cou duas peque­ni­nas moe­das de cobre, de mui­to pou­co valor. Cha­man­do a si os seus dis­cí­pu­los, Jesus decla­rou: Afir­mo-lhes que esta viú­va pobre colo­cou na cai­xa de ofer­tas mais do que todos os outros. Todos deram do que lhes sobra­va; mas ela, da sua pobre­za, deu tudo o que pos­suía para viver” (Mc 12:41–44).

E como isso me cons­tran­geu! Não me sur­pre­en­di, pois já conhe­ço um pou­qui­nho do Car­lão e de sua gene­ro­si­da­de, mas pen­sei comi­go mes­ma: “O Car­lão con­fia mais em Deus do que eu, que tenho salá­rio fixo, casa, comi­da, rou­pa lava­da e lazer”.

Nos­sa comu­ni­da­de local é, em média, bem abas­ta­da e vive con­for­ta­vel­men­te. Pou­cos em nos­so meio sofrem neces­si­da­des bási­cas de sobre­vi­vên­cia. Então, por que car­gas d’agua não temos o dízi­mo e as ofer­tas como pri­o­ri­da­de em nos­sa vida finan­cei­ra? Por que em mês de féri­as nos­sa arre­ca­da­ção finan­cei­ra des­mo­ro­na? Por que às vezes temos de ficar men­di­gan­do itens para pou­co mais de uma dúzia de ces­tas bási­cas que doa­mos men­sal­men­te? Por que anu­la­mos nos­sos dízi­mos e ofer­tas quan­do sela­mos algum com­pro­mis­so financeiro?

Aí você me diz: “Ah, mas o Car­lão não tem con­tas para pagar; ele vive de doações.”

Pois sai­ba que o Car­lão tra­ba­lha com reci­cla­gem e tem seu ganho con­for­me a quan­ti­da­de de mate­ri­al reco­lhi­do por ele. Rece­be sim doa­ções, mas ele mes­mo bus­ca seu sus­ten­to, assim como eu e você. E não é por­que ele não tem uma casa para morar que não tem con­tas a pagar, não é mes­mo? Ain­da assim, Car­lão dá suas moe­di­nhas sema­nal­men­te, con­fi­an­do num Deus pro­ve­dor, que o sus­ten­ta para que ele pos­sa tra­ba­lhar e o aben­çoa com doa­ções de pes­so­as generosas.

Car­lão tem a alma desa­pe­ga­da e vive dia a dia, pois apren­deu a duras penas que a vida não se resu­me a cifrões, por mais que sua vida seja mar­gi­na­li­za­da pelo fato de ele não seguir os padrões que a soci­e­da­de impõe para alguém seja bem acei­to. Temos ao nos­so lado uma pes­soa que lite­ral­men­te vive a ora­ção do Pai Nos­so, que diz: “O pão nos­so de cada dia dá-nos hoje”.

Creio que temos mui­to a apren­der com o Car­lão e pen­sar se real­men­te con­fi­a­mos num Deus pro­ve­dor e devol­ve­mos a Ele nos­sas pri­mí­ci­as ou se temos tido outras pri­o­ri­da­des mate­ri­ais em nos­sos corações.

Por Car­la Strac­ke Pimentel,
mem­bro da IM em Itaberaba

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