Dentro ou fora da “visão”?

Está se tor­nan­do cada vez mais comum entre alguns gru­pos den­tro das mais dife­ren­tes igre­jas o uso da expres­são “den­tro ou fora da visão”. Tais gru­pos enten­dem por “visão” o con­jun­to de alguns prin­cí­pi­os dou­tri­ná­ri­os, bíbli­cos ou rela­ci­o­na­dos a cos­tu­mes par­ti­cu­la­res que rotu­lam uma prá­ti­ca de fé espe­cí­fi­ca. O uso des­sa expres­são está asso­ci­a­do, na mai­o­ria das vezes, a pes­so­as e gru­pos fun­da­men­ta­lis­tas ou lite­ra­lis­tas, que têm um con­cei­to de fé limi­ta­do e extremista.

Como foi dito aci­ma, gru­pos com essa pos­tu­ra estão em mui­tas igre­jas, sejam elas clas­si­fi­ca­das como tra­di­ci­o­nais ou pen­te­cos­tais, e inva­ri­a­vel­men­te se posi­ci­o­nam de for­ma bas­tan­te arro­gan­te, pois se con­si­de­ram, de algum modo, pri­vi­le­gi­a­dos por Deus, que lhes teria con­ce­di­do uma “visão” sobre como a igre­ja deve ser e atu­ar. Aque­les que não com­par­ti­lham des­sa “visão” são con­si­de­ra­do por eles cren­tes de segun­da clas­se, pois não seri­am espi­ri­tu­ais o sufi­ci­en­te para enten­der ou acei­tar a von­ta­de de Deus.

Mui­tas são as con­sequên­ci­as da pos­tu­ra ado­ta­da por esses gru­pos. A mais comum, e cer­ta­men­te a mais tris­te delas, é a di-visão. A igre­ja fica divi­di­da entre aque­les que têm a visão e os que não a pos­su­em. O argu­men­to dado pelos “da visão” é que eles de algu­ma for­ma se dedi­ca­ram mais às prá­ti­cas espi­ri­tu­ais, como ora­ção, jejum, lei­tu­ra bíbli­ca e con­sa­gra­ção, e por isso a eles foi reve­la­do um que­rer supe­ri­or ou espe­ci­al da par­te de Deus. Assim, quem não esti­ver “na visão” deve, o mais rápi­do pos­sí­vel, cor­rer atrás do pre­juí­zo, antes que seja taxa­do de tra­di­ci­o­nal, frio e insubmisso.

Vári­as pas­sa­gens da Bíblia nos rela­tam que Deus con­ce­deu aos homens visões do que Ele dese­ja para Seu povo, no pre­sen­te ou no futu­ro, mas é no Novo Tes­ta­men­to que encon­tra­mos a visão que pode­mos con­si­de­rar defi­ni­ti­va do Senhor para Sua igre­ja: o Rei­no de Deus. A Igre­ja Meto­dis­ta em espe­ci­al rea­fir­ma seu com­pro­mis­so em sina­li­zar e con­cre­ti­zar “o Rei­no de Deus na Ter­ra”, con­for­me afir­mam vári­os de seus docu­men­tos, entre os quais o Pla­no para Vida e Mis­são. Esse docu­men­to em par­ti­cu­lar foi ela­bo­ra­do a par­tir de uma série de dis­cus­sões e con­sul­tas aos mem­bros sobre quais seri­am as dire­tri­zes dou­tri­ná­ri­as da Igre­ja Meto­dis­ta no Bra­sil, ten­do sido apro­va­do pelo Con­cí­lio Geral, isto é, a ins­tân­cia repre­sen­ta­ti­va máxi­ma na vida da nos­sa igreja.

Sen­do assim, esses levan­tes abrup­tos que ocor­rem de tem­pos em tem­pos por par­te de alguns gru­pos no seio da igre­ja, embo­ra sejam natu­rais, nada têm a ver com o prin­cí­pio do cor­po de Cris­to. Isso por­que a visão de Deus para a igre­ja já está pos­ta: temos de, em uni­da­de, empre­gar todos os esfor­ços para que o Rei­no de Deus se tor­ne uma realidade.

A gran­de evi­dên­cia de uma espi­ri­tu­a­li­da­de viva e efi­caz na comu­ni­da­de é a acei­ta­ção da diver­si­da­de. É natu­ral e bom que haja dife­ren­tes visões, des­de que nun­ca uma seja con­si­de­ra­da supe­ri­or à outra e, prin­ci­pal­men­te, que o pro­pó­si­to de Deus para a Sua igre­ja nun­ca seja suprimido.

Pr Tiago Valentim

Com cari­nho e esti­ma pastoral,
Pr. Tia­go Valentin

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