ComUnidade

Cos­tu­mo dizer que a igre­ja é uma ins­ti­tui­ção que tem tudo pra dar erra­do. Tra­ta-se de um gru­po de pes­so­as com gran­des dife­ren­ças soci­ais, de vári­as fai­xas etá­ri­as e de for­ma­ção inte­lec­tu­al diver­sa, além de expec­ta­ti­vas, ansei­os e bus­cas dife­ren­tes entre si, as quais optam por con­vi­ver e fazer coi­sas em con­jun­to. Mas a igre­ja só é uma rea­li­da­de, já há qua­se 2 mil anos, por­que a pre­sen­ça de Deus, pela ação do Espí­ri­to San­to, dá con­di­ções para isso. Afi­nal, o que deter­mi­na a exis­tên­cia da igre­ja extra­po­la a von­ta­de ou o esfor­ço huma­no, cons­ti­tuin­do-se num ver­da­dei­ro mila­gre de Deus.

Os agru­pa­men­tos de pes­so­as se dão, entre outros moti­vos, por cau­sa de uma ou mais afi­ni­da­des, ou seja, as pes­so­as se jun­tam tam­bém pelo que têm em comum. É o caso, por exem­plo, da tor­ci­da de um time de fute­bol ou de mem­bros de um clu­be de lei­tu­ra, que se unem pelo amor a bons livros. Con­tu­do, como igre­ja que somos, o que nos une é mai­or do que o que nos é comum. Em outras pala­vras, nos­sas afi­ni­da­des são menos impor­tan­tes do que nos­sa irmandade.

Usu­al­men­te dize­mos que cris­tãos e cris­tãs são nos­sos irmãos e irmãs. Mas a irman­da­de não é ape­nas uma for­ma de tra­ta­men­to que usa­mos no dia a dia da igre­ja, e sim um prin­cí­pio de fé. Quan­do enten­de­mos e acei­ta­mos que, pelo sacri­fí­cio de Cris­to, fomos ado­ta­dos pelo mes­mo Pai, que é o Nos­so Deus, pas­sa­mos a nos ver e a nos tra­tar como irmãos de fé.

Os Evan­ge­lhos nos infor­mam que, em boa par­te do minis­té­rio de Jesus, havia uma mul­ti­dão que O seguia. Mas havia tam­bém um gru­po um pou­co menor, de 12 pes­so­as, tal­vez Seus irmãos de cami­nha­da, e um gru­po ain­da mais redu­zi­do, com­pos­to por três daque­les homens: Pedro, Tia­go e João. Quem sabe era com estes que Jesus tinha mai­or afinidade.

Pre­ci­sa­mos enten­der que, na igre­ja, afi­ni­da­de e irman­da­de coe­xis­tem. É ine­vi­tá­vel que em nos­so meio haja pes­so­as que gos­tem, façam ou pen­sem de manei­ra mais pare­ci­da e por isso tenham mai­or afi­ni­da­de e um rela­ci­o­na­men­to mais ínti­mo. Entre­tan­to, quan­do fala­mos de exer­ci­tar a nos­sa fé e tra­ba­lhar em prol da obra do Senhor, as afi­ni­da­des são sobre­pu­ja­das pela irman­da­de, pois “há um só Senhor, uma só fé, um só batis­mo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4:5–6).

A bele­za de ser igre­ja é que, nes­te ambi­en­te, a Gra­ça de Deus pre­va­le­ce sobre tudo. E, onde há a mani­fes­ta­ção da Gra­ça, há liber­da­de de expres­são, de gos­to, de von­ta­de. Den­tro da igre­ja, as dife­ren­ças são per­mi­ti­das e valo­ri­za­das. E exis­tem pes­so­as pare­ci­das e dife­ren­tes, que natu­ral­men­te for­mam gru­pos dis­tin­tos de inte­res­se e afi­ni­da­de. Mas nos­sas afi­ni­da­des den­tro da igre­ja não podem dar lugar à for­ma­ção de gru­pos her­mé­ti­cos e exclu­den­tes, pois não deve haver gru­pos fecha­dos ou exclu­si­vos den­tro da igre­ja. Além dis­so, quan­do fala­mos em bus­car e ser­vir a Deus, não leva­mos em con­si­de­ra­ção nos­sas afi­ni­da­des ou nos­sas dife­ren­ças; sim­ples­men­te damos as mãos, nos uni­mos e ofe­re­ce­mos ao Senhor o nos­so melhor.

Você pode ter mai­or afi­ni­da­de com algu­mas pes­so­as e menor com outras – é qua­se impos­sí­vel ter­mos inti­mi­da­de com todas as pes­so­as da igre­ja o tem­po todo. Mas, quan­do se tra­ta de ser­mos uma famí­lia, uma ver­da­dei­ra comu­ni­da­de, não há esco­lha: somos irmãs e irmãos com seme­lhan­ças e dife­ren­ças, mas que se amam, se res­pei­tam e devem cami­nhar juntos.

Pr Tiago Valentim

Do seu irmão em Cristo,
Rev. Tia­go Valentin

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