Afinidade e irmandade

As rela­ções huma­nas são esta­be­le­ci­das por uma série de fato­res. Um dos mais habi­tu­ais, e que mais valo­ri­za­mos, é a afi­ni­da­de, ou seja, o sen­ti­men­to sobre algo que é do gos­to comum de duas ou mais pes­so­as e faz com que elas se iden­ti­fi­quem e entrem em concordância.

Nos­sa afi­ni­da­de com alguém pode acon­te­cer por­que gos­ta­mos do mes­mo esti­lo musi­cal, das mes­mas ati­vi­da­des, ou temos a mes­ma for­ma de pen­sar, entre outras coi­sas. Por isso, nem sem­pre é pos­sí­vel ter­mos afi­ni­da­de com todos, pois há dife­ren­tes opi­niões e gos­tos. Na medi­da em que me iden­ti­fi­co com alguém, a ten­dên­cia é que eu estrei­te minha rela­ção com essa pes­soa. Em con­tra­par­ti­da, a ten­dên­cia é não ter­mos uma rela­ção tão pró­xi­ma ou ínti­ma com quem não temos tan­ta afinidade.

Essa rea­li­da­de é comum a todos e faz par­te da dinâ­mi­ca natu­ral da vida. Há pes­so­as dife­ren­tes e pes­so­as pare­ci­das entre si. E esse cená­rio tam­bém está pre­sen­te no seio da igre­ja. Con­tu­do, quan­do fala­mos do ambi­en­te da igre­ja, além das afi­ni­da­des há outro fator que influ­en­cia – ou pelo menos deve­ria influ­en­ci­ar – a for­ma de nos rela­ci­o­nar­mos, que é a irman­da­de. Usu­al­men­te dize­mos que cris­tãos e cris­tãs são nos­sos irmãos e irmãs, mas a irman­da­de não é ape­nas uma for­ma de tra­ta­men­to que usa­mos no dia a dia da igre­ja, e sim um prin­cí­pio de fé. Quan­do enten­de­mos e acei­ta­mos que, pelo sacri­fí­cio de Cris­to, fomos ado­ta­dos pelo mes­mo Pai, que é o nos­so Deus, pas­sa­mos a nos ver e tra­tar como irmãos de fé.

Os Evan­ge­lhos nos infor­mam que, em boa par­te do minis­té­rio de Jesus, havia uma mul­ti­dão que o seguia. Mas havia tam­bém um gru­po um pou­co menor, de doze pes­so­as, tal­vez seus irmãos de cami­nha­da, e um gru­po ain­da mais redu­zi­do, com­pos­to por três daque­les homens: Pedro, Tia­go e João. Quem sabe era com eles que Jesus tinha mai­or afinidade.

Pre­ci­sa­mos enten­der que, na igre­ja, afi­ni­da­de e irman­da­de coe­xis­tem. É ine­vi­tá­vel que em nos­so meio haja pes­so­as que gos­tem, façam ou pen­sem de manei­ra mais pare­ci­da e por isso tenham mais afi­ni­da­de e um rela­ci­o­na­men­to mais ínti­mo. Entre­tan­to, quan­do fala­mos de exer­ci­tar nos­sa fé e tra­ba­lhar em prol da obra do Senhor, as afi­ni­da­des são sobre­pos­tas pela irman­da­de, pois “há um só Senhor, uma só fé, um só batis­mo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos” (Ef 4:5–6).

A bele­za de ser igre­ja é que, nes­te ambi­en­te, a Gra­ça de Deus pre­va­le­ce sobre tudo e, onde há a mani­fes­ta­ção da Gra­ça, há liber­da­de de expres­são, de gos­to, de von­ta­de. Den­tro da igre­ja, as dife­ren­ças são per­mi­ti­das e valo­ri­za­das. E exis­tem pes­so­as pare­ci­das e dife­ren­tes, que natu­ral­men­te for­mam gru­pos dis­tin­tos de inte­res­se e afi­ni­da­de. No entan­to, quan­do fala­mos em bus­car e ser­vir a Deus, não leva­mos em con­si­de­ra­ção nos­sas afi­ni­da­des ou dife­ren­ças; sim­ples­men­te damos as mãos, nos uni­mos e ofe­re­ce­mos ao Senhor o nos­so melhor.

Você pode ter mai­or afi­ni­da­de com algu­mas pes­so­as e menor com outras – é qua­se impos­sí­vel ter­mos inti­mi­da­de com todas as pes­so­as da igre­ja o tem­po todo. Mas, quan­do se tra­ta de ser­mos uma famí­lia, não há esco­lha: somos irmãs e irmãos com seme­lhan­ças e dife­ren­ças, mas que se amam, se res­pei­tam e devem cami­nhar juntos.

Pr Tiago Valentim

Com cari­nho e esti­ma pastoral,
Pr. Tia­go Valentin

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