Cadê o manual?

Diz o dita­do que “filho não vem com manu­al de ins­tru­ções e por isso é tão difí­cil edu­cá-lo”. De fato, a edu­ca­ção dos filhos não é uma tare­fa nada fácil. E, quan­do falo de edu­ca­ção, não estou me refe­rin­do àque­las ins­tru­ções que damos aos nos­sos filhos quan­do são cri­an­ças, dizen­do “isso não pode”, “eu estou man­dan­do” etc. Na minha con­cep­ção, a edu­ca­ção de um filho se dá por toda a vida, pois, den­tro dos parâ­me­tros bíbli­cos e cris­tãos que segui­mos, edu­ca­mos mui­to mais pelo exem­plo do que pelo mui­to falar. Logo, se edu­car filhos é dar exem­plo, nos­sa tare­fa só aca­ba­rá quan­do não esti­ver­mos mais por aqui.
Edu­car um filho não é tra­ba­lho que pos­sa­mos ter­cei­ri­zar para a esco­la, a igre­ja, os avós ou as babás, ain­da que mui­tas pes­so­as equi­vo­ca­da­men­te façam isso. Enten­do que há mui­tas con­fi­gu­ra­ções fami­li­a­res hoje em dia, mas minha pre­o­cu­pa­ção vai na dire­ção de pais e mães que deli­be­ra­da e inten­ci­o­nal­men­te trans­fe­rem suas res­pon­sa­bi­li­da­des para outros, sem per­ce­ber o pre­juí­zo e a per­da que estão cau­san­do ao futu­ro de seus filhos.
Tam­bém não é inco­mum o ajus­te que mui­tas famí­li­as fazem ao defi­nir, cons­ci­en­te ou incons­ci­en­te­men­te, a tare­fa de edu­car para a mãe, dei­xan­do para o pai ape­nas o papel de pro­ve­dor. Eis aqui uma lon­ga e boa dis­cus­são sobre os papéis de cada um numa famí­lia. Mas o que pode­mos dizer sobre isso é que exis­tem diver­sos estu­dos nos cam­pos da psi­co­lo­gia, da soci­o­lo­gia e da reli­gião que garan­tem que a ausên­cia ou omis­são pater­na na edu­ca­ção dos filhos é sem­pre prejudicial.
Por isso, nes­te dia, eu me diri­jo em espe­ci­al aos pais: não dei­xem de exer­cer sua auto­ri­da­de e seu papel na vida de seus filhos duran­te toda a sua vida.
A boa notí­cia é que, se não temos um manu­al explí­ci­to para edu­ca­ção dos filhos, temos uma óti­ma refe­rên­cia para nos aju­dar, que é a Pala­vra de Deus. E nela encon­tra­mos um óti­mo parâ­me­tro de rela­ci­o­na­men­to entre um Pai e um Filho: Deus e Jesus.
Em prin­cí­pio, uma aná­li­se das Escri­tu­ras pode­rá nos levar a um con­cei­to de pai numa estru­tu­ra soci­al patri­ar­cal e poli­gâ­mi­ca, que não ser­ve como parâ­me­tro para ori­en­tar nos­so tem­po. No entan­to, somos con­vi­da­dos a uma relei­tu­ra da Pala­vra de Deus ten­do como fun­da­men­to Sua gra­ça res­tau­ra­do­ra para per­do­ar, recon­ci­li­ar, res­pei­tar, incluir e amar.
Por meio des­sa relei­tu­ra, recu­pe­ra­re­mos o con­cei­to de um Deus Pai, ten­do como base a vida e o minis­té­rio de Jesus Cris­to. Os tex­tos do Evan­ge­lho reve­lam cla­ra­men­te um rela­ci­o­na­men­to fili­al entre Jesus e o Pai (Mt 11:27; Mc 14:36; Jo 1:14, 3:35, 5:19–36, 6:39–57, 10.24–25; Rm 8:15–17; Gl 4:6). De fato, Deus encar­nou as ver­da­dei­ras carac­te­rís­ti­cas de um pai: cri­a­dor, sus­ten­ta­dor, edu­ca­dor, per­do­a­dor, aco­lhe­dor, cui­da­dor e cheio de afeição.
Des­ta­co três impor­tan­tes lições do rela­ci­o­na­men­to entre Deus e Seu Filho. A pri­mei­ra é a extra­or­di­ná­ria ora­ção ensi­na­da por Jesus a Seus dis­cí­pu­los – o Pai-Nos­so (Mt 6:9–15; Lc 11:2–4). Ali, Jesus abre as por­tas rela­ci­o­nais sobre o con­cei­to de Deus Pai: um Pai que cui­da, aco­lhe, indi­vi­du­al e cole­ti­va­men­te, e inclui com afe­ti­vi­da­de todas as pessoas.
A segun­da lição, ain­da no con­tex­to da ora­ção do Pai-Nos­so, nos traz o cui­da­do de Deus para conos­co: “Qual den­tre vós é o pai que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se pedir um pei­xe, lhe dará em lugar de pei­xe uma cobra? Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escor­pião? Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádi­vas aos vos­sos filhos, quan­to mais o Pai celes­ti­al dará o Espí­ri­to San­to àque­les que lho pedi­rem” (Lc 11:11–13). São lições extra­or­di­ná­ri­as de Jesus apre­sen­tan­do o cora­ção amo­ro­so de Deus, que ofe­re­ce dádi­vas a Seus filhos e filhas. As por­tas do Pai estão sem­pre abertas.
A ter­cei­ra lição se dá pela conhe­ci­da pará­bo­la do filho pró­di­go (Lc 15:11–32). Nela, estão as vir­tu­des de um pai que não aban­do­na o filho des­vi­a­do e o aco­lhe, perdoa‑o, reintegra‑o na vivên­cia fami­li­ar e lhe ofe­re­ce dig­ni­da­de por meio de atos con­cre­tos: “Coma­mos e rego­zi­ge­mo-nos, por­que este meu filho esta­va mor­to e revi­veu, esta­va per­di­do e foi acha­do” (Lc 15:23–24).
Dese­jo a todos um óti­mo Dia dos Pais e que o Senhor nos aju­de na desa­fi­a­do­ra, mas incrí­vel tare­fa de ser­mos exem­plo para nos­sos filhos e ver­da­dei­ros edu­ca­do­res, à ima­gem e seme­lhan­ça do Deus Pai.

Pr Tiago Valentim

Um pater­nal abra­ço a todos,
Rev. Tia­go Valentin

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