Abandonando o barco

Vede! Cau­te­lo­sa­men­te, vai um bar­qui­nho a vagar; e o ven­to, que é o seu motor, não o dei­xa parar. Minha vida é assim, tam­bém: não vive no mar, mas vive a vagar; sou como um bar­qui­nho cru­za­dor, mas quem me con­duz, é o Senhor.

Recen­te­men­te, acom­pa­nha­mos por meio dos noti­ciá­ri­os um gra­ve desas­tre que acon­te­ceu com um tran­sa­tlân­ti­co na cos­ta ita­li­a­na. Pelos pri­mei­ros indí­ci­os, o capi­tão do navio teria sido um dos pri­mei­ros a aban­do­nar secre­ta­men­te a embar­ca­ção e essa sus­pei­ta reper­cu­tiu de manei­ra bas­tan­te nega­ti­va. Afi­nal de con­tas, aque­le que deve­ria ser um dos últi­mos, senão o últi­mo, a aban­do­nar a embar­ca­ção dei­xou toda a tri­pu­la­ção e os pas­sa­gei­ros a “ver navios”.

Nós tam­bém fica­mos indig­na­dos quan­do aque­les que estão no mes­mo “bar­co” que a gen­te nos aban­do­na. É mui­to tris­te quan­do um mari­do ou uma espo­sa aban­do­na o casa­men­to, quan­do alguém sai de um pro­je­to cole­ti­vo ou quan­do alguém deci­de dei­xar a igre­ja. Jesus tam­bém pas­sou por tris­te­za e frus­tra­ção seme­lhan­te quan­do, no momen­to cul­mi­nan­te de seu minis­té­rio, os dis­cí­pu­los o aban­do­na­ram. Nin­guém que­ria ser asso­ci­a­do a um “ban­di­do” que esta­va pres­tes a ser exe­cu­ta­do. Sim, os dis­cí­pu­los aban­do­na­ram o barco.

Na gran­de mai­o­ria das vezes, o que leva alguém a aban­do­nar o bar­co é o fato de ele estar fura­do. Nin­guém quer cor­rer o ris­co de nau­fra­gar. Afi­nal a vida vale mui­to mais do que uma mera embar­ca­ção. Em se tra­tan­do de um navio, isso até pode fazer sen­ti­do. Mas, quan­do tra­ta­mos de um pro­je­to, um sonho ou um desa­fio cole­ti­vo, como, por exem­plo, a igre­ja, as coi­sas não são bem assim.

Aban­do­nar o bar­co quan­do sabe­mos que ele pode nau­fra­gar é, sem dúvi­da, a ati­tu­de mais fácil. O difí­cil é ficar, aju­dar a achar a per­fu­ra­ção e con­ser­tá-la. Sair da igre­ja argu­men­tan­do que há algo erra­do é e sem­pre será a saí­da mais fácil e a menos jus­ti­fi­cá­vel. Isso por­que a igre­ja tem e sem­pre terá pro­ble­mas, limi­ta­ções e erros. Afi­nal, somos nós que esta­mos den­tro dela!

Um furo no cas­co da igre­ja nun­ca é res­pon­sa­bi­li­da­de exclu­si­va de uma pes­soa. O após­to­lo Pau­lo, ao usar sabi­a­men­te a ima­gem do cor­po para ilus­trar a igre­ja, diz que, quan­do um mem­bro sofre, todos sofrem com ele. A úni­ca for­ma de aper­fei­ço­ar­mos a igre­ja e espe­ci­al­men­te sua pre­sen­ça san­ti­fi­ca­do­ra no mun­do é ficar den­tro dela e aju­dar com ora­ção, envol­vi­men­to, com­pro­me­ti­men­to e ser­vi­ço, para que todos os furos sejam tapados.

O melhor de tudo é que o capi­tão da igre­ja é Jesus e Ele nun­ca irá aban­do­nar esse bar­co. Que, a exem­plo do nos­so con­du­tor, nós tam­bém con­ti­nu­e­mos a acre­di­tar e a tra­ba­lhar para que a igre­ja seja um sinal con­cre­to do rei­no de Deus no mundo.

Pr Tiago Valentim

Com cari­nho e esti­ma pastoral,
Pr. Tia­go Valentin

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