Intolerância religiosa

Veio para o que era seu, e os seus não o rece­be­ram” (Jo. 1.11).

Há duas sema­nas acom­pa­nha­mos atô­ni­tos por meio dos noti­ciá­ri­os o aten­ta­do ter­ro­ris­ta ocor­ri­do na Noru­e­ga. O autor da bar­bá­rie, o noru­e­guês Anders Beh­ring Brei­vik, matou 93 pes­so­as para pro­tes­tar con­tra o Islã, con­tra os islâ­mi­cos e con­tra aque­les que os tole­ram. Anders foi asso­ci­a­do a gru­pos ultra­di­rei­tis­tas e fun­da­men­ta­lis­tas cris­tãos na Noru­e­ga. Moti­va­do por razões polí­ti­cas e reli­gi­o­sas, ele exte­ri­o­ri­zou sua into­le­rân­cia usan­do covar­de­men­te a violência.

A into­le­rân­cia está pre­sen­te nos mais dife­ren­tes seg­men­tos na soci­e­da­de, sen­do exer­ci­da inva­ri­a­vel­men­te con­tra as mino­ri­as. Temos tam­bém o exem­plo do Ori­en­te Médio, onde a into­le­rân­cia entre judeus e ára­bes já viti­mou milhares.

No mes­mo Ori­en­te Médio, há qua­se 2.000 anos, Jesus tam­bém foi víti­ma de into­le­rân­cia, não por par­te de um extre­mis­ta ou de um gru­po opo­si­tor, mas daque­les que ser­vi­am ao mes­mo Deus que ele e, mais que isso, freqüen­ta­vam a mes­ma sina­go­ga (Lc. 4.16–30). Judeus que não acei­ta­vam a pre­sen­ça de outro judeu por não se enqua­drar nos padrões pre­es­ta­be­le­ci­dos pelo meio reli­gi­o­so do qual fazi­am parte.

Esse qua­dro de into­le­rân­cia reli­gi­o­sa den­tro do mes­mo nicho de fé pode ser vis­to tam­bém nos dias de hoje, entre os evan­gé­li­cos. Caris­má­ti­cos, pro­gres­sis­tas, pen­te­cos­tais, tra­di­ci­o­nais, libe­rais e fun­da­men­ta­lis­tas não tole­ram con­vi­ver uns com os outros. Por isso tan­tas igre­jas e deno­mi­na­ções dife­ren­tes, já que essas pes­so­as não têm a humil­da­de de con­si­de­rar “cada um os outros supe­ri­o­res a si mes­mo” (Fp. 2.3b). A plu­ra­li­da­de de deno­mi­na­ções é um des­fa­vor para a fé cris­tã. Esse divi­si­o­nis­mo tes­te­mu­nha con­tra uma prá­ti­ca de fé que apre­goa o amor, a uni­da­de e a tolerância.

Inva­ri­a­vel­men­te essas ten­dên­ci­as evan­gé­li­cas optam por cami­nhar iso­la­da­men­te em seus pró­pri­os tem­plos e cul­tos, mas há tam­bém casos em que esses gru­pos coe­xis­tem den­tro de uma mes­ma igre­ja. O que acon­te­ce então é uma fal­sa tole­rân­cia, na qual o dife­ren­te é acei­to ape­nas por­que cada um tem a “fé” de que em algum momen­to ele vai se con­ver­ter e pas­sar a fazer par­te do seu grupo.

Irmãos e irmãs de uma mes­ma igre­ja se rotu­lam e se clas­si­fi­cam como mais ou menos espi­ri­tu­ais, esque­cen­do-se de que, em últi­ma aná­li­se, todos são peca­do­res e care­cem da gra­ça de Deus. Não pode­mos cri­ar este­reó­ti­pos do que é ser cren­te ou de quem é mais ou menos san­to. A refe­rên­cia de con­du­ta do cris­tão e da igre­ja é a Pala­vra de Deus. Tudo o que for fei­to ou fala­do que fuja da Bíblia deve ser cor­ri­gi­do e evi­ta­do, pois a nos­sa refe­rên­cia é e sem­pre será a Pala­vra, e não os padrões humanos.

Tole­rar nada tem a ver com con­cor­dar com o peca­do do outro, mas sim acei­tar aque­le que pen­sa e pra­ti­ca a fé de for­ma dife­ren­te da minha. Quan­do vemos que nos­so irmão ou irmã está tri­lhan­do um cami­nho que desa­gra­da a Deus, é nos­sa res­pon­sa­bi­li­da­de aler­tá-lo e aju­dá-lo a tomar o rumo cer­to. Con­tu­do, como e por onde nos­so pró­xi­mo quer cami­nhar para Deus não nos cabe jul­gar. Temos, sim, é que dar as mãos uns aos outros e cami­nhar jun­tos, já que dese­ja­mos che­gar ao mes­mo lugar (Ef. 4.1–2).

Pr Tiago Valentim

Com cari­nho e esti­ma pastoral,
Pr. Tia­go Valentin

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.